‘Minha pressão é 12 por 8. Vou ter que tomar remédio?’: nova cartilha explica o que mudou na hipertensão
A pressão alta afeta um em cada três brasileiros e segue sendo uma das principais causas de infarto e AVC no país. Em setembro, a Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão — um documento técnico extenso, voltado a profissionais.
Agora, nesta terça-feira (9), a entidade lançou uma cartilha em linguagem simples para desmistificar o que mudou e o que não mudou no diagnóstico, no tratamento e nas metas de pressão arterial.
O documento, obtida pela reportagem, tenta desfazer ruídos que circularam nas últimas semanas, especialmente a ideia de que “12/8 virou doença” ou de que “todo mundo será obrigado a tomar remédio” — afirmações que, segundo a entidade, não encontram respaldo na diretriz oficial.
O que é pré-hipertensão
Segundo a cartilha, nada mudou no critério que define hipertensão: continua sendo necessário apresentar pressão igual ou acima de 140/90 mmHg em pelo menos duas ocasiões para receber o diagnóstico.
Valores entre 120–139/80–89 mmHg constituem a chamada pré-hipertensão — um estágio de alerta, e não uma condição clínica. A intenção é estimular a vigilância e a adoção de hábitos saudáveis antes que a pressão, de fato, ultrapasse o limite considerado seguro.
Quando o remédio entra (e quando não entra)
A recomendação sobre tratamento também permanece clara:
O uso de medicamentos está indicado apenas quando a hipertensão é confirmada (≥ 140/90 mmHg) ou quando pessoas com 130–139/80–89 mmHg, classificadas como alto risco cardiovascular, não atingem controle após três meses de mudanças de estilo de vida.
A cartilha reforça que ninguém usa remédio por ter 12 por 8 — e que, antes de medicar, é obrigatório avaliar intervenções não farmacológicas, como alimentação, exercícios e sono de qualidade.
Medidas não medicamentosas recomendadas a partir de 120/80 mmHg:
- Reduzir peso quando necessário.
- Não fumar.
- Praticar atividade física regular.
- Controlar estresse.
- Ter boa qualidade de sono.
- Limitar álcool.
- Adotar alimentação com pouco sal e poucos ultraprocessados.
- Nova meta de pressão.
A diretriz passa a orientar que, após iniciar o tratamento, a pressão seja reduzida a valores menores que 130/80 mmHg, inclusive nas medições domiciliares (MRPA) e na monitorização ambulatorial de 24 horas (MAPA).
Segundo o documento, metas mais baixas protegem melhor coração, cérebro, rins e vasos sanguíneos — órgãos mais diretamente afetados pela pressão alta descontrolada.
Medir em casa ajuda a evitar erros
A cartilha reforça que medir a pressão apenas no consultório pode mascarar problemas. Por isso, em muitos casos, o médico solicitará MRPA ou MAPA.
O documento lista passos para uma medição confiável:
- Como medir a pressão corretamente em casa
- Usar aparelhos automáticos de braço validados.
- Não treinar, comer ou tomar café uma hora antes.
- Esvaziar a bexiga e descansar 5 minutos.
- Manter costas apoiadas, pés no chão e braço na altura do coração.
- Realizar 3 medidas com 1 minuto de intervalo, sem conversar.
Exames anuais obrigatórios para quem já é hipertenso
Ao menos uma vez por ano, hipertensos devem realizar um conjunto de exames que ajudam a detectar complicações silenciosas — como problemas renais ou cardíacos. Entre eles estão glicemia, colesterol, função renal, análise de urina e eletrocardiograma.
Mitos e verdades que a cartilha esclarece
A parte mais didática do material responde diretamente às dúvidas que viralizaram:
- 12/8 virou doença. Mito. 120/80 mmHg não é hipertensão. É um ponto de atenção para reforço de hábitos.
- Todo mundo vai ter que tomar remédio. Mito. Remédios só são indicados com diagnóstico confirmado ou risco muito alto.
- Sal rosa é liberado. Mito. Todo sal tem sódio. A orientação é reduzir, não trocar por outro tipo.
- Só medir no consultório basta. Mito. MRPA e MAPA são fundamentais em muitos casos para evitar erros de diagnóstico.
- A meta mudou para < 130/80 mmHg. Mito. A diretriz realmente ficou mais rigorosa com as metas, buscando maior proteção cardiovascular.
Sinais de alerta
A cartilha também lista sintomas que exigem busca urgente por atendimento, especialmente quando associados a pressão muito alta:
- Dor forte no peito ou falta de ar.
- Fraqueza ou dormência em um lado do corpo, fala enrolada ou confusão — sinais de AVC.
- Dor de cabeça súbita e intensa, visão turva, tontura ou desmaio.
- Pressão ≥ 180/110 mmHg acompanhada de sintomas como dor no peito, visão alterada ou formigamento.
- Em gestantes: dor de cabeça intensa, pontos luminosos na visão, inchaço súbito ou dor na parte alta do abdômen.










